Nossos parceiros do Arup Connect falaram com Matt Williams, líder do grupo de engenharia de fachadas da Arup America, desenhista de mão cheia, sobre o papel do desenho na era digital. A entrevista a seguir, originalmente sob o título de "To Sketch or Not to Sketch," discute como o desenho permite a comunicação e como nosso excesso de confiança na tecnologia não é, na realidade, tão eficiente como pensamos.
Uma das coisas que estamos tentando desenvolver nas equipes de fachadas são pessoas que podem se relacionar com o arquiteto, desenvolvendo e respondendo requisitos arquitetônicos importantes.Tendo vindo da arquitetura, identifico, historicamente, um conflito, se é que esta é a palavra correta, entre arquitetos e engenheiros. No entanto, isto não deveria existir. Ao cabo, todos querem a mesma: um projeto de sucesso.
Leia o restante da entrevista a seguir...
Ter arquitetos nas equipes de fachadas ajuda a quebrar algumas dessas barreiras. Quando eu entrei para Arup em Londres, talvez 30% das pessoas nas equipes responsáveis pelas fachadas eram arquitetos. Nos Estados Unidos, os arquitetos representam 50% do grupo responsável pela pele do edifício. Isso cria uma ambiente multidisciplinar integrado em conjunto com outros profissionais de construção, também voltados para a concepção das fachadas, como físicos, engenheiros estruturais e especialistas da indústria.
Trabalhamos para desenvolver aquele elo entre engenharia e arquitetura, então, nas reuniões, nós desenhamos para ter uma ideia mais clara do que querem os arquitetos. Se você vai a uma reunião e apenas assente com a cabeça e diz: "Sim, sim, eu entendo," penso que alguns arquitetos acham que você está apenas se tornando um desenhista pra eles, apenas com um rigor mais técnico. Quando se desenha em reuniões, se está ativamente dando uma resposta às ideias apresentadas e ajudando a desenvolver novas ideias também. Podemos optar muito mais rapidamente através de desenhos durante uma reunião, pois as soluções diferentes estão na mesa. E se tem outras pessoas na reunião que não entendem desenhos técnicos em 2D ou mesmo desenhos e modelos em 3D, os croquis são uma bom meio de comunicação.
Além disso, a Arup é uma comunidade global, então tenho tido sorte de trabalhar em projetos no mundo todo, de Israel à China e Rússia. Você pode se comunicar com outras pessoas através de desenhos mesmo se não falam a mesma língua.
Como o surgimento do BIM tem afetado este cenário?
O BIM é de enorme importância para o trabalho que a Arup realiza, e para a indústria da construção em geral, especialmente em relação à documentação e entrega. No entanto, creio que algumas vezes existe um excesso de confiança no CAD e no 3D, especialmente nas fases iniciais dum projeto. Devido à expectativa em relação ao BIM, as pessoas parecem mergulhar na elaboração de modelos no computador muito rapidamente. Se você mergulhar nas plataformas CAD e BIM muito cedo, e aí voltar atrás para fazer muitas mudanças, é realmente algo que toma muito tempo e não necessariamente te ajuda a entender como as coisas andam juntas.
Penso que devemos olhar para nossas propostas nas fases iniciais, tornando nossas entregas de trabalho mais enxutas. Ainda acho que existe um lugar para o desenho, é apenas uma questão de entender até aonde se pode chegar com ele. Anteriormente, eu conseguia viver sem fazer detalhes no CAD, produzindo documentos de licitações à mão. Isso provavelmente mudou. Agora nós conseguimos chegar a 50% DD, talvez 100% DD.
É muito difícil incorporar o nível de detalhe que se pode ver nesses croquis num modelo 3D do Revit, por exemplo. Modelos do Revit não suportam tamanha quantidade de informação. Ele os divide em uma espécie de blocos, as famílias. Ou você acaba com um modelo que tem 500 MB e é muito lento, ou com apenas uma série de blocos.
De qualquer maneira, nós nunca colocamos tal nível de detalhamento numa maquete 3D. Nós temos sorte que muito da indústria ainda entrega desenhos de fabricação em duas dimensões. Acho que com a engenharia estrutural, e com os caras da eng. mecânica em aprticular, o nível de expectativa para as pessoas hoje em dia se resume tudo a BIM e 3D e todas essas coisas.
Então, mesmo se o Revit suportasse tal nível de detalhamento, você ainda acharia mais rápido se comunicar através de desenhos à mão?
Especialmente nas primeiras etapas [do projeto] é mais rápido.
Existem atualmente poucas empreiteiras ou especialistas em fabricação de elementos de fachada que trabalham com o Revit ou qualquer um desses outros de modelos 3D. Você descobrirá que a maioria dos contratantes são experientes com trabalhos em Revit, mas mesmos eles não esperam uma grande quantidade de fachadas a serem modeladas. Podem pedir partes da fachada a serem modeladas, detalhes importantes ou áreas de geometria complexa. Nós frequentemente confeccionamos maquetes que possuem 10 metros de comprimento e dois pavimentos de altura; eles podem pedir isso em 3D, para ser inserido em seus modelos.
Nós ainda precisamos e temos todas as habilidades de modelamento de CAD e de análise para responder aos requisitos de projeto, mas a habilidade de fazer croquis e desenhar detalhes de maneira rápida para conceber uma ideia ou resolver um complexo problema ainda tem um papel importante na maneira com que desenvolvemos nossos projetos de fachada.
Parece um momento histórico interessante onde a tendência é ir em direção ao BIM por uma série de motivos, alguns dos quais são muito bons e práticos, mas alguns talvez sejam um "tiro no pé". A indústria parece estar um pouco dispersa em termos de quais métodos são mais apropriados.
Exatamente. Trabalhei com o escritório da Zaha Hadid em Londres – tudo naquele escritório é feito em três dimensões. A expectativa é que todos os resultados de projetos seriam enviados para eles em CAD. Eles não precisam estar em 3D, mas todos eles precisam estar em AutoCAD. Então nós mandávamos nossos desenhos à mão para nosso escritório australiano em Sidney. A Austrália iria passá-los para CAD da noite pro dia, e então nós os reenviaríamos para o escritório da Zaha Hadid.
Quando eu saí de lá e comecei a trabalhar com o escritório do Frank Gehry, assumi que eles apenas trabalhariam com 3D. Mas quando eu comecei a trabalhar com eles, percebi que eles gostavam de fazer tudo com modelos físicos, e tudo teria que ser feito à mão. Nós não estaríamos trabalhando com o CAD para um projeto até que nossos desenhos à mão tivessem sido assinados pelo responsável. É interessante que seu processo é, na verdade, muito similar ao processo que eu estava falando, onde existe uma linha na areia. Você ainda pode estar projetando e optando, mas existe um ponto evidente em que o projeto se torna um elemento tridimensional. Essa é a maneira como o trabalho do Gehry é feito. Não consigo imaginar quantas maquetes físicas existem em seu escritório. Eles foram espertos em manter este processo de desenho à mão, e para mim isto é muito inspirador.
Esse artigo é uma cortesia de Arup Connect, a revista digital de Arup nas Américas, cada semana explorando ideias que transformam o ambiente construído em toda América do Sul e Norte.